Pulse and movement: two Decades of Salvador Foto Clube
“If the air does not move, there is no wind. If we do not move, we have no life (…).”Itamar Vieira Junior, Torto Arado
For the major exhibition celebrating the twentieth anniversary of the Salvador Foto Clube, we celebrated photography and life with the theme of movement. It is a generous concept encompassing biology, philosophy, physics, and psychoanalysis, among many other areas. For this reason, it is a vital concept. Movement helps us to think about change, transformation, and impermanence: fundamental questions for understanding human existence. Thinking about movement allows us to delve deeper into nature, the perception of reality, and the relationship with others and the world. It is nothing more than describing the photograph itself. To photograph is to observe reality and to learn through the infinite diversity of our perspectives. To photograph is to take in the considerable details of the life around us.Through different themes and techniques, in color or B&W, the selected thirty-seven images for the exhibition rethink a more fluid, plural, innovative, and eternally evolving photography. In the photos, we can see details of the river and the sea, the fleetingness of a glance, the essence of human power, the peace of a pause, the strength of the collective, the history of a family's generation, or even the memory of a place: in all of them, movement is present. All images have in common the extended time of a movement intertwined with subjective temporalities. The philosopher and scholar of photographic language Maurício Lissovsky believes that the photographic instant is not a crystallization of movement or time but "a significant portal of times: past futures, present pasts, future presents ”. We see not fixed instants but entanglements of time, with countless temporal layers in motion.The photographers show a visual image of a static reality and an artistic creation in a continuous movement process. Within the limits of the photo frame, we have an uninterrupted, interior, and subjective movement of memory, a constant extension of the past into the present that penetrates the future, and a substantial flow of life and spirit. It is a coming and going of temporalities that communicate and enhance the paths of photography.It was photographer Walter Firmo who inspired the pioneering creation of the Salvador Foto Clube. Born in Rio de Janeiro and over 85 years old, Firmo's trademark is his masterful use of color to illustrate Brazilian culture and people. He is also known as the photographer of dreams. His images do not deal with a frozen moment, quite the opposite, but rather with a time that overflows with movements of hope, beauty, and life. “Life is not made only of blood, it is not made only of this type of instantaneity. If man does not dream he will not survive ”. Even if today we still associate photography with immobility, photography wanders, dances with the dreamlike, plays with the poetic, moves the real, and wanders with the absurd.To highlight the symbolic and physical importance of movement the exhibition is made in a way that the public can walk between the fabric prints. Like the phrase from the book "Torto Arado," which inspired this exhibition, the images move with the wind. In the ebb and flow of this journey, the bodies—both human and image-like—interact with light, air, space, and life. It creates an intimate and powerful dialogue that stands out from this dynamic, encompassing the photographic images, their histories, and each person who passes through. The human being is not the center of anything it is a movement, and our past and future are part of the universe. Photography should be an effort to transcend the human condition and help us understand that we belong to a greater whole that does not belong to us.
ioana mello
Curator
Pulsão e movimento: Duas Décadas do Salvador Foto Clube
“Se o ar não se movimenta, não tem vento. Se a gente não se movimenta, não tem vida (…).” Itamar Vieira Junior, Torto Arado
Para a grande exposição dos vinte anos do Salvador Foto Clube, celebramos a fotografia e a vida com o tema do movimento. Um conceito generoso, que perpassa a biologia, a filosofia, a física, a psicanálise, entre tantas outras áreas. Por isso mesmo, um conceito vital. O movimento nos ajuda a refletir sobre a mudança, a transformação e a impermanência: questões fundamentais para o entendimento da existência humana. Pensar o movimento nos permite um aprofundamento na natureza e na nossa percepção da realidade, assim como na nossa relação com o outro e com o mundo. Isso nada mais é do que a descrição da fotografia em si. Fotografar é observar a realidade e apreende-la através da diversidade infinita dos nossos olhares. Fotografar é se alongar nos inúmeros detalhes da vida a nossa volta.Através de temáticas e técnicas diferentes, em cor ou em P&B, as trinta e sete imagens selecionadas para a mostra repensam uma fotografia mais fluída, plural, inovadora e em eterno (des)envolvimento. Nas fotos vemos detalhes do rio e do mar, a fugacidade de um olhar, a essência da potência humana, a paz de uma pausa, a força do coletivo, a história de gerações de uma família, ou ainda a memória de um sítio: em todas o movimento se faz presente. Todas as imagens tem em comum o tempo alargado de um movimento imbrincado de temporalidades subjetivas. O filósofo e estudioso da linguagem fotográfica Maurício Lissovsky acredita que o instante fotográfico não é uma cristalização do movimento ou do tempo, mas “um significativo portal de tempos: futuros passados, passados presentes, presentes futuros ”. O que vemos não são instantes fixos, mas emaranhados de tempo, com inúmeras camadas temporais em movimento.Os fotógrafos e fotógrafas aqui apresentados nos revelam não apenas uma imagem visual de uma realidade imóvel, mas uma criação artística, em contínuo processo de movimento. Dentro dos limites da moldura da foto, temos um movimento ininterrupto, interior e subjetivo da memória, um prolongamento contínuo do passado no presente que penetra no futuro, um fluxo substancial da vida e do espírito. É um vai e vem de temporalidades que comunicam e que enaltecem os caminhos da fotografia.Foi o fotógrafo Walter Firmo que inspirou a criação precursora do Salvador Foto Clube. Carioca, hoje com mais de 85 anos, Firmo tem como marca registrada a maestria no uso das cores para ilustrar a cultura e o povo brasileiro. Além disso, é conhecido como o fotógrafo dos sonhos. Suas imagens não tratam do instante paralisado, muito pelo contrário, mas de um tempo que transborda movimentos de esperança, de beleza e de vida. “A vida não é feita só de sangue, não é feita só desse tipo de instantaneidade. Se o homem não sonhar ele não vai sobreviver ”, diz ele. Mesmo se ainda hoje atrelamos a mídia fotográfica à imobilidade, a fotografia perambula, dança com o onírico, brinca com o poético, movimenta o real e divaga com o absurdo.Para enfatizar a importância simbólica e física do nos mexer, a montagem da exposição é feita com impressões em tecido, instaladas de maneira que o público possa caminhar entre elas. Assim como a frase do livro Torto arado, que inspira esta exposição, as imagens se movimentam com o vento. No ir e vir desse percurso se dá o movimento dos corpos – humanos e imagéticos - da luz, do ar, do espaço e da vida. É um diálogo extremamente intimo e potente que transborda dessa pulsão, entre as imagens fotográficas, seus tempos, e cada pessoa que por aqui passar. O homem não é o centro de nada, ele é movimento, seu passado e seu futuro são o próprio universo. A fotografia deve ser o esforço de superar a condição humana e nos fazer compreender que pertencemos a um todo, e não é este todo que nos pertence.
ioana mello
Curadora