TÉCIA BORGES
Nas minhas fotos, incito as pessoas para uma linguagem com um olhar simples. O motivo para o registro é a emoção! Há uma leve presunção de compartilhar o sentimento registrado e o pouco da história que as imagens querem contar. Nos autorretratos, permito-me desvendar as dores e as alegrias do meu ser nas vivências de uma mulher que se busca no encontro com o universo e as pessoas ao seu redor.
Era um dia da Baiana, em 25 de novembro de 2018, eu estava fotografando na Igreja de Nossa Senhora Rosário dos Pretos, quando Ebomi Nice, uma das maiores autoridades da Bahia na religião Afro Brasileira, me convidou para sentar junto dela e fotografá-la.
Logo em seguida, chegou essa senhora, Márcia Regina dos Santos Virgens, que como se diz por aqui, eu gostei de graça! Meu Santo se deu com o dela!
Obviamente meus olhos de fotógrafa, imediatamente captaram o momento do encontro que está registrado nesta imagem, a qual entitulo de Sororidade.
“A origem da palavra sororidade está no latim sóror, que significa “irmãs”. Esse termo pode ser considerado a versão feminina de fraternidade. Ou ainda, relação de irmandade, união, afeto ou amizade entre mulheres, assemelhando-se àquela estabelecida entre irmãs” – Dicionário Online de Português.
Remetendo à ideia de solidariedade entre mulheres , que se apoiam para conquistar a liberdade e a igualdade que desejam.
Pra mim, não existiria título melhor. Digo isto pelas mulheres aí retratadas.
Ebomi Nice do Terreiro da Casa Branca, tem atuação nacionalmente reconhecida, única mulher de Salvador a compor a Irmandade Secreta de Mulheres da Boa Morte, de Cachoeira, tendo ocupado diversos cargos religiosos durante sua trajetória, sendo um importante referencial para todas as pessoas que trabalham pela igualdade de direitos.
Dra. Márcia Virgens, Procuradora de Justiça do Ministério Público do Estado da Bahia, desde 1991, Doutora em Derechos Humanos y Desarollo pela Universidad Pablo de Olavide e Coordenadora do Núcleo de Proteção dos Direitos Humanos e Articulação com os Movimentos Sociais. Uma mulher negra, baiana, que desempenha um brilhante papel no garantia dos direitos humanos, com uma atuação institucional também voltada aos direitos das mulheres. Para Márcia Virgens, a proteção das manifestações culturais é assegurada constitucionalmente, devendo o Estado proteger as manifestações das culturas populares, indígenas e afro-brasileiras.
Imaginem o quanto eu fiquei honrada com este registro. Não pensem que foi pelos títulos anteriormente listados. Mas, sim pelas mulheres valorosas e exemplos que elas são, ambas com fortes trajetórias no combate ao racismo e à intolerância religiosa.
Desta forma, com este breve relato, trago aqui neste Dia Internacional da Mulher esta fotografia como uma homenagem singela a estas duas mulheres: Ebomi Nice e Márcia Virgens. Muito Axé!
Texto: Dra. Técia Borges ( Fotógrafa, Cirurgião-dentista e Doutora em Saúde Pública)
Instagram: @teciaborges / @drateciaborges